Ambiente Aquático
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O que sente quando vê a margem de um rio poluído?
Logo à primeira vista, percebe-se um forte impacto visual que contrasta com a beleza dos espaços naturais.
Mas os impactos na qualidade da água vão muito além do estético.
A contaminação por resíduos traz consequências nefastas para a vida aquática, para saúde humana, para a pesca, a aquacultura, o turismo, e para a economia de uma forma geral.
O facto é que 80% do lixo que invade os ribeiros, rios, lagos, lagoas, mares, praias e oceanos, vem de fontes terrestres!
Para ter uma ideia do que estamos a falar, pense num rio muito poluído por lixo humano... e agora compare o que imaginou, com o estado do rio Citarum na Indonésia!
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Um equilíbrio que pode demorar centenas de anos!
Mesmo que paremos imediatamente de emitir lixo para os oceanos, estima-se que no ano 2300 ainda haverá milhões de toneladas de lixo plástico nos oceanos, porque a taxa de degradação destes plásticos no ambiente aquático, embora variável, é de forma geral muito lenta.
Uma garrafa de plástico ou uma linha de pesca, podem demorar entre 150 a mais de 600 anos para se decomporem.
Como podem fragmentar-se em pedaços cada vez menores, e portanto mais difíceis de remover, muitos deles nunca irão desaparecer totalmente.
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Remar contra a maré do lixo
Existem iniciativas de sensibilização por parte organizações de proteção do ambiente, esforços incansáveis de grupos de voluntariado, vários projetos de investigação em curso, e legislação mais dirigida a esta problemática, que reconhece a enorme dificuldade de remoção do lixo no ambiente aquático e a importância extrema da sua redução e prevenção.
Um jovem holandês desenvolveu uma solução tecnológica para reduzir o tempo de limpeza dos oceanos, com o seu projeto Ocean Cleanup, que está a ser testado em zonas do oceano Pacífico onde existe grande acumulação de lixo.
Em Portugal também existem projetos de investigação e iniciativas para promover a redução do lixo nos rios e praias, que pode conhecer neste vídeo com filmagens no rio Minho.
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O que vemos nas margens do rio Minho
Graças à colaboração de cidadãos, grupos escolares e diversas entidades, tem sido possível registar ao longo do tempo, nas margens do rio Minho, os principais tipos de resíduos encontrados em ações regulares de monitorização.
Destacam-se os plásticos, de utilizações e dimensões variáveis, que incluem desde os plásticos mais visíveis, passando pelas tampas de garrafas, plásticos de embalagens, balões, palhinhas, cotonetes, pedaços de esferovite, fio de pesca, até pellets para fabrico de plásticos e componentes de filtros de águas residuais.
Outra categoria muito abundante são as beatas de cigarros.
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Curiosidades científicas
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Mais de 100 milhões de toneladas de plástico à deriva nos mares e oceanos
Como é que o ambiente aquático se tornou tão poluído?
Os plásticos que consumimos: sacos, garrafas, tampas, baldes, brinquedos, embalagens, utensílios descartáveis, e um sem fim de peças plásticas.. quando não são separados e reciclados podem ser arrastados pelo vento, chuva, inundações, tempestades e acabam por chegar aos rios, e mares.
No ambiente aquático, alguns plásticos fragmentam-se por ação do sol, ondas, salinidade, e os pequenos pedaços entram nas teias alimentares.
A cada ano enviamos para os oceanos cerca de 12 milhões de toneladas do nosso lixo plástico!!
E como no planeta Terra não existe um autoclismo para se livrar desse lixo plástico, exitem atualmente mais de 100 milhões de toneladas de plástico à deriva nos oceanos :(
Se pensarmos que o plástico se obtém a partir do petróleo, um recurso fóssil finito, cujo processo de transformação é poluente, rapidamente percebemos que algo deve estar errado na forma como estamos a gerir os recursos do planeta e o lixo que fazemos.
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Que tal uma Sopa de Plástico?
Em 1997, quando o oceanógrafo Charles Moore regressava de uma regata entre Los Angeles e Hawaii, alertou para existência de uma zona no Pacífico Norte com mais de 1,6 milhões de Km2 de plástico flutuante, o que corresponde aproximadamente a 17 vezes o tamanho de Portugal continental, Açores e Madeira.
E como os oceanos não conhecem fronteiras, não é de admirar que se encontrem em zonas remotas, gigantescas “sopas de plástico” oriundas de países industrializados, trazidas por correntes oceânicas. -
Os cotonetes, sabem nadar?
Quando colocamos cotonetes na sanita, estes acabam por ir ter ao rio e ao mar, porque não são retidos nas redes de esgotos e estações de tratamento de águas residuais.
Viajam ao sabor das correntes, e aparecem de volta!
É por isso que encontramos tantos cotonetes na praia.
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Já viu microplásticos por aí?
Se caminharmos com um olhar ainda mais atento, vemos também pequenos plásticos, chamados microplásticos (com diâmetro inferior a 5mm).
Estes podem ser resultantes da fragmentação de plásticos maiores, como por exemplo, uma tampa de garrafa de plástico que se vai degradando em pequeninos pedaços.
Também podem ser resinas plásticas, que são matéria prima para a indústria do plástico, e que acidentalmente se perdem durante o processamento, o armazenamento em grandes sacos e o transporte.
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E lá em casa, também há microplásticos?
Outra fonte de contaminação do ambiente aquático vem diretamente das nossas casas!
Quando escolhemos as roupas que vamos vestir nem imaginamos que podemos estar a contribuir para a aumulação de plástico no ambiente aquático… certo?
Mas cada vez que colocamos a nossa roupa na máquina são perdidas milhares de fibras de tamanho inferior a milímetros, na água de lavagem.
Essas fibras, na sua maioria sintéticas, não são retidas pelos filtros da máquina de lavar, nem pelos filtros das estações de tratamento de águas residuais, para onde esta água segue, e por isso, vão parar ao rio e ao mar.
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Já olhou para as etiquetas das suas roupas?
Poliéster, nylon, acrílico, poliamida, são tecidos sintéticos, alguns deles até fabricados com fibras derivadas da reciclagem do plástico, no entanto, continuam a ser poluentes.
Existem alternativas de origem natural para reduzir significativamente a quantidade de fibras sintéticas nas lavagens.
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Plástico no gel de banho e na pasta dos dentes, a sério?!?
Sim, os produtos de cosmética e higiene pessoal podem conter plástico!
Por ser relativamente barato e muito disponível, o plástico tornou-se um ingrediente utilizado também em produtos da nossa higiene quotidiana, como gel de banho, creme esfoliante, pasta de dentes e maquilhagem.
Ao passarmos o rosto e corpo por água, as pequeninas partículas plásticas contidas nestes produtos, fluem pela canalização das nossas casas e como é praticamente impossível retê-las nas estações de tratamento de águas residuais, vão desaguar e poluir os rios e afluentes.
Pode consultar os principais plásticos nos produtos de higiene higiene e cosmética através deste link.
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Andamos a comer plástico?
Os pequenos fragmentos de plástico são facilmente confundidos com alimento, pelas espécies aquáticas.
No ambiente aquático existem teias alimentares em que peixes maiores se alimentam de outros menores.
Isso significa que estes microplásticos podem estar presentes no peixe que comemos.
Estudos científicos demonstram que peixes, bivalves e crustáceos, que são capturados ou cultivados para consumo humano, contém partículas de plástico e fibras sintéticas.
Outros estudos científicos demonstram que essas partículas e fibras podem reter compostos químicos prejudiciais à saúde, que vão sendo acumulados, e que existe transferência dessas partículas contaminadas nas teias alimentares.
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E no mar, que armadilhas existem?
Para além do lixo proveniente de fontes terrestres, os materiais desportivos, e de pesca, perdidos ou abandonados, também podem prejudicar a navegação e causar danos às embarcações.
Estes resíduos podem danificar os recifes de coral e aprisionar animais marinhos, como, baleias, golfinhos, tubarões, focas, tartarugas, peixes e crustáceos, que ficam feridos e podem não sobreviver.
- Uma equação ambientalmente nociva para o ecossistema marinho, que nos é vital!
As consequências são devastadoras para a qualidade da água, a saúde humana e a vida das espécies.
Estima-se que mais de 1.200 espécies de animais estejam a ser afetadas pelo lixo marinho, incluindo aves marinhas, que frequentemente confundem plástico com alimento.
Para além do fortíssimo impacto ambiental e na saúde pública, estima-se que os custos da poluição de plástico cheguem a 10.500 milhões de euros por ano, quando se pensa em termos económicos, nomeadamente com os custos de limpeza das praias e prejuízos nas pescas.